sábado, 26 de outubro de 2013

Moldura




Formas do barro

Com a história da terra pisada,

Das fogueiras acendidas,

Dos espaços albergados.

 
Cores de significados

Decorando olhares geométricos.

 
Emoldurados de beleza

Armazenavam-se grãos,

Armazenavam-se a água,

Armazenavam-se o sagrado.

 
Nos fragmentos abrigados pela terra

Perpetuou-se o corpo e a memória;

O signo da alma foi quebrado.
 
 
Foto: Angela Gomes (fragmentos cerâmicos)

domingo, 8 de setembro de 2013

Crescente Azul



O seu sorriso me faz crer
Na lenda das fadas
Azuis e ensolaradas
Festejando a essência da vida.
E, entre elfos e ondinas
Mergulho em silêncio
O meu sonho.
Na magia que se faz presente,
O seu sorriso é a lua.

(hoje, 08/09/2013, lua em conjunção com vênus :)


foto: Angela Gomes

domingo, 1 de setembro de 2013

Parte




Parte de mim é sonho.
Parte, pesadelo.
Parte de mim, arde.
Parte deixou de sê-lo.
Escombro que desabou
Sobre as cores fortes da tarde.
Sobras de luzes; sombras
Desconstruindo o que restou
De um inteiro
Pela metade.



Imagem: Angela Gomes

Ordem do dia


Mataram a mata e o santuário.
Na conta da energia,
O obituário.
Ninhal de pássaros
Passaram.
Mamíferos de grande porte,
Só o homem
Redimensionando os lugares.

No canteiro das obras
(Já oculto do canto dos pássaros)
Investigo os seus passos,
Antepassados,
No traçado das ferramentas de pedra
Ou, modelados nas cerâmicas quebradas.
Desejo olhá-lo com outros olhos,
Que causem menos estranhamento.
Embora, mesmo os sóis se devorem.
 
 
Imagem: Angela Gomes

sábado, 31 de agosto de 2013

Dor acesa




Quando tudo que há em mim

Houver sangrado

Enquanto, até a última árvore tombar

Cicatrizes na terra

Ferida, dor, angústia, espera

Para o fim que se insinua

Ao rio que navega em mim.

Dor acesa.

Sobre a pálpebra

O pesar

Da lágrima

Que sepultará a terra,

Ao silêncio

Do passado que restar
 
 
Imagem: Angela Gomes

domingo, 25 de agosto de 2013

Sambaqui





                 
 
Esculpido em rochas,

No monumento das conchas,

Fragmentos humanos.
 
 
 
Foto: Juliane Grinberg. Zoólito, acervo LEPAARQ, UFPEL, RS.
 

Artemporal

               Foto: Angela Gomes. Pinturas rupestres da Serra da Capivara, PI



Gravado na fronte


Da fronte do tempo...

Em segredo,

Sagrado de cores

Perpetuando homens e animais.

Grafismos idiossincráticos,

Virtuais.

Observando olhares,

Subvertendo paisagens,

Transgredindo movimentos e imagens.

Nas rochas,

Poesias artemporais.


 

sábado, 24 de agosto de 2013

Viagem




Sonhos do homem que voo

Para além das fronteiras do tempo...

Para além de todas as manhãs.

 
Pôde ver estrelas, anéis de asteroides,

Quasares, cometas...

Além de poder navegar pelo espaço.

 
Apenas não pôde ver e ouvir os pássaros,

Nem os outros animais;

As árvores, as montanhas, os vales e os riachos.

 
Também não pôde ver nem ouvir o mar,

E os sonhos de um planeta

Que deixou para trás.

domingo, 18 de agosto de 2013

Ensaio


guardei teu azul
nas vidrarias e na porcelana.
no cadinho, coloquei para secar
teorias e ensaios.
teu azul coloriu de sonho
o que não havia para sonhar.
acordo mudo mútuo refratário.
no cadinho, coloquei para secar.
no laboratório de ensaios
as vidrarias quebradas
as cruzes retorcidas
tudo já foi usado.
em qual vidro restará
o que não foi apagado?
em qual estudo ressurgirá
do cadinho de porcelana trincado
o resto da tinta do teu olhar?

 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Secreto






















No sé su nombre
No sé sus ojos
No sé su color
No veo sus árboles
No piso las hojas secas
Que desconstruyeram sus otoños
Pero siento lo que tocó.
Su alma bayla
En la llama del fuego
Que el viento sopló




Imagem da web: Remedios Varo - Homo Rodans, 1959.